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Conheça histórias de quem passou por isso e pode ajudá-lo a superar

Por Eduardo Prestes 

https://www.universal.org/blog/2018/10/29/75897/

Quem já não ouviu dizer que a vida é um perde e ganha? Embora não se trate de um jogo, há realmente momentos em que temos essa impressão. Em um dia, se está por cima, com um bom emprego, uma família formada, um relacionamento estável e, em outro, a situação muda completamente de figura. O trabalho desaparece, o relacionamento que parecia ser um conto de fadas termina e um ente querido parte inesperadamente. São ocorrências da vida, é verdade, mas também situações difíceis com as quais é preciso aprender a lidar. O problema é que nem sempre ou quase nunca se está preparado para elas.

Sem prumo 
Há os que se desesperam ou perdem o prumo nessas ocasiões. Sentem-se sozinhos e abandonados diante daquele momento terrível. Entram em depressão profunda. Alguns não esboçam nenhuma reação, tamanho é o impacto que isso causa em suas vidas. Para tratar desse assunto com propriedade e saber como é possível lidar com o sentimento de perda irreparável, a Folha Universal conversou com especialistas e também com pessoas que passaram por situações adversas e contaram suas histórias de superação.

Abalo emocional
Luiz Gonzaga, doutor em psicologia e especialista em terapia cognitivo-comportamental, considera que situações como a morte de um ente querido, uma demissão ou o fim de um relacionamento podem realmente abalar as pessoas. “O desencadeamento de sintomas emocionais e fisiológicos, como a angústia, a tristeza e o medo, por exemplo, e a forma de lidarmos ou não com aquela situação, seja paralisando, congelando ou a enfrentando, dependerão do nosso modo de interpretá-la, já que o histórico de vida de cada um promove essa singularidade: somos pessoas únicas”, avalia.

Processo de adaptação 
Na opinião do especialista, em algum momento da vida, todos passaremos por uma perda. “Muitas pessoas têm dificuldades de lidar com elas pelo fato de estar vivenciando o presente, mas pensar nisso é importante, já que a perda é um processo e, às vezes, não é algo passageiro, mas duradouro, como a morte, por exemplo. Saber lidar com a perda é adaptativo, pois move nossos recursos internos para nos adaptarmos à situação de estresse ou enfrentá-la, mas nem sempre as pessoas têm recursos internos para se adaptar a essas situações”, observa.

Reação equivocada
Nesses momentos, cada um pode reagir das mais diversas maneiras e até de uma forma equivocada para lidar com a perda. “Geralmente, existem algumas pessoas que não têm recursos internos adaptativos e acabam recorrendo ao álcool e às drogas para amenizar essa angústia interna que elas têm. Porém sabe-se que o uso destes últimos gera também custos para a saúde mental e física. Muitas vezes, elas não sabem agir e pensar de outra maneira, pois na sua vida sempre lidaram desta forma, por mais que isso lhes traga consequências negativas”, avalia o especialista.
Segundo Gonzaga, há indivíduos que não desenvolveram os recursos adaptativos ao longo da sua vida. “Isso acaba impactando no seu modo de estruturar a sua visão de mundo. Por isso, reconhecer as suas limitações e problemas é o primeiro passo para buscar ajuda”, sugere.

Morte em família
O jovem Giovan Brito, de 29 anos, nasceu no interior da Bahia, na cidade de Santo Estevão, e aos 16 anos veio para São Paulo para passar um período com o pai que havia se separado da mãe dele.
“Não era a primeira vez que eu fazia isso, mas foi a última que vi meu pai vivo. Meu pai perdeu o emprego e acabei ficando mais tempo do que devia. Nessa situação, ele teve uma úlcera que provocou a morte dele aos 49 anos. Meu pai até sabia que tinha o problema, mas era meio cabeça-dura e não queria usar remédio e, por isso, veio a falecer”, conta.

Sozinho
A irmã caçula do rapaz, que também estava em São Paulo, voltou para a Bahia para ficar com a mãe, mas Giovan acabou ficando. “Eu estava sozinho e tive que aprender muito rápido a lidar com aquela situação. Embora eu estivesse passando pela dor de ter perdido meu pai, não tinha muito tempo para pensar nisso, pois tinha que me manter. Abri mão do estudo. Todo tipo de bico que aparecia eu topava. Fui ajudante de eletricista e servente de pedreiro. Tive que amadurecer rapidinho. Nessas horas de terror e sofrimento eu não tinha amigo. Só quem estava ao meu lado era Deus. Eu pensei: ‘vou contar com Ele e seguir em frente’. Fiz isso e deu muito certo”, analisa.

Provas da vida
O jovem que hoje trabalha na área de logística traça planos para o futuro, mas sempre com a presença de Deus em sua vida. “Pretendo ter uma companheira e também abrir um negócio. Como trabalho com logística, ainda estou pensando em algo que tenha relação com essa área. Sei que existe a dor da perda, mas não podemos nos entregar a ela. Tenho certeza de que quando você coloca uma meta no papel consegue cumpri-la. É como quando você faz musculação: se você sente dor ao se exercitar, é porque o exercício está fazendo efeito. Você não pode desistir no meio de uma série, pois a vida nos põe à prova para ver se merecemos ter o que temos”, argumenta.

Marido, amigo e pastor 
Outro exemplo de quem teve que lidar com a perda de uma pessoa querida em virtude de falecimento é a missionária e coordenadora da Escola Bíblica Infantil (EBI) no Brasil, Jane Garcia, de 41 anos. Ela foi casada por 23 anos com o pastor Marcelo Garcia, que faleceu em 2017.

“Nós éramos amigos, um casal e ele era o meu pastor. Nos conhecemos muito jovens e tivemos uma história linda. Há alguns anos, quando estávamos na América Central, ele teve um problema renal. Acabamos voltando para o Brasil para que ele se tratasse e doei um rim para ele”, recorda.

Preparação
Mas Jane lembra que aconteceu outro problema. “Na época em que viemos para o Templo de Salomão, meu marido acabou contraindo criptococose, doença infecciosa transmitida pelas fezes de pombos. Ele fez tratamento e uma série de exames, mas, depois de uma reunião realizada pelo Bispo Macedo, no Templo de Salomão, ele me falou que eu continuaria a vida sem ele: ‘os meus dias estão se aproximando’. Eu falei: ‘vamos viver como se não houvesse amanhã’, mas ele pediu que eu pensasse em como seria a vida dali para a frente. Era como se Deus me dissesse: ‘desapega porque ele é meu filho e vai morar comigo’”, relata.

Como Jó
Jane diz que o marido chegou a ficar por um tempo internado no hospital. “Um mês depois ele teve alta. Estava bem. Um dia antes de falecer, ele ligou para os pais como quem se despedia deles. Na noite em que ele morreu, eu agradeci por tudo o que vivemos juntos. Ele morreu em meus braços, em casa, depois de uma parada cardíaca. A dor era um processo que eu teria que lidar posteriormente. Muitas pessoas não conseguem lidar com situações difíceis mesmo estando dentro da Igreja, mas manter-se firme na fé, como Jó que perdeu tudo e continuou fiel a Deus, nos mostra que toda perda tem um lado bom”, reflete.

Gratidão
Para lidar com a dor, Jane revela que chorou muito. “Até Jesus chorou com a morte de Lázaro. Eu falava da dor, do luto, mas o meu sentimento maior era de gratidão. Não tinha por que lamentar a morte dele. Quando a dor da saudade chegou, comecei a focar em coisas boas que passamos, em vez de dar lugar à tristeza. Você precisa contar com a força superior de Deus. Por isso, foquei em minha vida de forma positiva, passei a ter uma alimentação bem saudável e o meu trabalho foi como um amigo para superar esse momento”, enfatiza.

Outras perdas

Quando falamos de perdas também nos referimos a momentos em que, além dos entes queridos, outras faltas podem ocorrer. O empresário paulista Robson Bezerra, de 42 anos, sabe muito bem o que é isso. Quem o vê à frente de um negócio bem-sucedido talvez não imagine o que ele já passou. “Aos 16 anos me envolvi com drogas. Cheguei a ir para uma clínica de reabilitação, mas não teve jeito. Me envolvi de tal forma que dali foi um pequeno passo para me tornar assaltante. Eu roubava de tudo: bancos, cargas, etc. Fiquei sete anos preso”, revela.

Apoio em Deus
Toda aquela situação também afetou sua relação com os familiares. “Eu perdi totalmente o caráter e a dignidade. Você vira um zero à esquerda. Quando meus filhos gêmeos nasceram, tomei uma bebedeira e me droguei para comemorar. Minha mulher me mandou embora de casa. Aí caiu a ficha que eu tinha que mudar. Decidi buscar a Deus e me libertei completamente.”

Duas carretas de gesso
Robson precisava trabalhar, mas não tinha perspectiva. “Um dia, fui de carona, num caminhão, para Pernambuco. Lá, fui em uma fábrica que produzia gesso. Você pode não acreditar, mas me ajoelhei em frente ao dono, mostrei minha carteira de presidiário, contei a minha história e que precisava trabalhar. Ele disse que eu estava louco, mas pensou um pouco e pediu para que eu voltasse no outro dia. Quando voltei, havia duas carretas cheias de gesso. Ele falou: ‘vende isso em São Paulo e manda o dinheiro’”, relembra.

Luto
Mesmo tendo trabalho, o empresário diz que os problemas não deixaram de aparecer: “há pouco tempo perdi uma filha adolescente. Ela teve um tumor na perna chamado osteosarcoma. Foram dois anos de tratamento, mas ela acabou morrendo. Foi muito difícil perder a Kauane. Choramos, passamos pelo luto, mas seguimos em frente. Depois disso, minha esposa estava grávida e nasceu a minha filha caçula, que agora está com quatro anos”, conta.

Revólver e metralhadora
O empresário diz que o processo para começar seu negócio foi lento. “Comecei pequeno e devagar, na garagem de casa, mas o trabalho foi me ajudando a crescer, a prosperar e também a restaurar a minha vida. Minha empresa já tem 600 metros e está sendo ampliada. Além disso, também adquiri uma casa no litoral, no Guarujá, mas é uma luta diária. Ninguém sabe o quanto eu chorei. Poucos acreditam que um cara sem estudo possa chegar aonde eu cheguei. O meu estudo era o revólver e a metralhadora, mas Deus mudou isso em minha vida”, afirma.

Imaturidade
Também há pessoas que têm dificuldades em lidar com a perda causada pelo fim do relacionamento. Marcela Hidalgo, analista de TI, de 31 anos (foto a dir.), passou por essa situação quando seu namoro de três anos acabou. “Nos dávamos muito bem, frequentávamos a mesma igreja e vivíamos a mesma fé. Sempre conversávamos sobre o futuro e como queríamos conduzir a nossa vida a dois, mas nossa imaturidade era notória. No Dia dos Namorados, ele terminou o relacionamento”, lembra.

Cura interna
Marcela conta que passou dias chorando muito. “Foi um término doloroso porque nos amávamos, mas não dava para seguir. Não conseguia ver mais minha vida ao lado de outra pessoa. Mas foi a fé que me deu forças para superar essa situação. A primeira atitude que tomei foi frequentar as palestras da Terapia do Amor no Templo de Salomão. Eu sabia que não poderia seguir com a minha vida se eu não me curasse internamente”, analisa.

Sólido e abençoado
Ao longo dos três anos, ela se tratou e alcançou a cura. “Estava muito feliz, mesmo solteira. Eu sabia que Deus iria me abençoar com a pessoa adequada na hora certa. Foi então que reencontrei meu ex-
noivo. Tivemos uma conversa e ele explicou por que havia terminado comigo. Admitiu que era muito imaturo e agiu movido pelo coração e não pela fé. Ficamos um tempo apenas conversando para que eu pudesse ver a mudança nele e então reatamos o relacionamento. Casamos há um mês e estamos muito felizes. Eu tinha certeza que havia um plano de Deus: o amadurecimento de ambos para que no futuro pudéssemos ter um casamento sólido e abençoado.”

Cicatriz sem dor
Mas nem sempre as histórias acabam como a de Marcela. Para o escritor e palestrante Renato Cardoso as etapas emocionais enfrentadas em uma separação se assemelham às vividas depois da perda de um ente querido. “É o chamado luto após o término de uma relação. O mais importante nesse momento é buscar a cura interior. Cuidar das feridas porque, uma vez curada, a pessoa não terá problema ao lembrar ou falar do passado. Será como uma cicatriz que não causa mais dor”, explica.

Começar de novo
Renato avalia que nem sempre é possível evitar a separação amorosa, mas que ela não é o fim. “Você pode começar de novo e não errar novamente. É um processo com várias fases. Se você passou ou está passando por uma, tenha coragem para enfrentar cada uma delas. Avalie todo o processo que levou ao fim do casamento e identifique as suas falhas. Se cuide e não deixe que o término do relacionamento seja o fim da sua vida. Os erros podem se tornar grandes lições se você souber aproveitá-los e tirar o melhor deles. Invista em você e aproveite essa experiência para melhorar da próxima vez”, conclui.

De onde vem o consolo?
Se você está enfrentando uma situação de perda e não está conseguindo sair dela, a Palavra de Deus mostra como conseguir o consolo para a sua dor. “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.” (João 14:16). Jesus explicou aos seus discípulos que eles não ficariam sozinhos após Sua morte, mas receberiam uma Força que estaria sempre com eles.

O Espírito Santo é esse consolador, mas também é espírito de coragem, moderação, amor. Características que ajudarão você a superar qualquer dor que estiver enfrentando.



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Conheça o profissional

Dr. Luiz Ricardo Vieira Gonzaga CRP 06/79399

Terapeuta Cognitivo Comportamental

Mestre (PUC-Campinas, 2011) e Doutor em Psicologia (PUC-Campinas, 2012-2016). Licenciado e Graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 2003, 2004). Especialista em Psicologia Clínica (USP, 2006).

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